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Castigo ou Consequência?

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Inês Cabral da Fonseca

Psicóloga Clínica – Crianças e Adolescentes

Nos últimos tempos, tem se debatido a função e utilização do castigo, em particular pelo receio das suas repercussões, utilidade e eficácia. No entanto, sabe-se que as regras e os limites em contexto familiar são essenciais para o bem-estar de todos e acima de todo para o desenvolvimento infantil. 


Mas então o que fazemos quando as crianças têm um comportamento desadequado? 

Em vez de castigos, podemos falar em consequências. Ainda que possam parecer conceitos semelhantes, transmitem mensagens diferentes à criança. 


Castigo - o que é e quais os efeitos?

O castigo é algo imposto de maneira externa e por vezes não está diretamente relacionado com o comportamento que a criança teve. Aplicar um castigo por si só pode interromper um comportamento, mas não vai ensinar a criança a ter um comportamento melhor, não a levará a refletir sobre alternativas ou soluções nem a desenvolver responsabilidade pelos seus atos. Quando aplicamos um castigo estamos a agir tendencialmente de uma forma autoritária e punitiva, sem que haja uma relação entre o ato e o castigo. 

Por outro lado, as consequências, fazem a ligação entre o comportamento e um resultado lógico e coerente.

Todos os nossos comportamentos e ações têm consequências. Como adultos, sabemos que existem consequências sobre os nossos atos, umas boas e desejáveis, outras menos boas e que nos custam mais a aceitar, mas fazem parte da vida e aprendizagem ao longo da vida.

Com as crianças não tem de ser diferente. Desta forma, a aplicação destas consequências levará a criança a aprender por meio dos seus erros ou comportamentos desadequados que teve.

Dentro das consequências poderemos considerar as naturais e as lógicas. As consequências naturais são resultado da ação de uma criança, caso não houvesse intervenção de um adulto. Por exemplo, a criança não quer vestir o casaco, poderá ter frio; a criança não quer comer, poderá ter fome até à próxima refeição (existem situações em que os pais não podem deixar as consequências naturais acontecerem, quando representam perigo para a criança e/ou outros e quando a consequência natural demorará muito tempo). As consequências lógicas são planeadas pelos pais como consequência de um comportamento incorreto.


Como devem ser aplicadas as consequências?

As consequências devem ser aplicadas tendo em conta algumas orientações: 

- Devem ser imediatas (aplicadas de forma imediata ao acontecimento);

- Deve incluir sempre diálogo e clarificação sobre o que seria de esperar (ou seja, os comportamentos que os pais gostariam de ter visto) e comportamentos alternativos ao que a criança teve. Conforme o estado emocional da criança, esta conversa poderá ocorrer antes da consequência ou apenas quando a criança já demonstrar mais disponibilidade e calma para ouvir. 

- Dar previsibilidade (isto é definir e clarificar as regras e limites, clarificar quais os comportamentos esperados, bem como as consequências do seu incumprimento);

- Limitadas no tempo (deve ser transmitida à criança a duração da consequência);

- Esteja atento (pode acontecer que de uma próxima vez ele/ela cumpra o combinado), acompanhe, verifique, elogie sempre que ocorra o comportamento desejado. Se necessário repita várias vezes e não se esqueça que o adulto serve de exemplo.

Para melhor compreendermos a diferença, analisemos os seguintes exemplos práticos: 

Situação 1: A criança não come. 

Consequência Natural: Explicar à criança que deverá esperar até à próxima refeição para comer, sem que coma entre refeições aquilo que queria. 

Castigo: Ir para o quarto e dormir. 

Situação 2: A criança parte um brinquedo num momento de birra

Consequência Natural: Explicar à criança que ficará sem o brinquedo que partiu. Consoante a idade, poder-se-á sugerir que com o seu dinheiro poderá comprar um novo. 

Castigo: Ir todos os dias para a cama mais cedo.

Situação 3: A criança viu mais televisão do que lhe é permitido.

Consequência Lógica: Recordar o que ficou definido nos limites e no dia seguinte descontar esse tempo extra. 

Castigo: Ficar sem ver televisão. 

Situação 4: A criança não emprestou um brinquedo na escola e trouxe um recado para casa 

Consequência Lógica: No dia seguinte, não poderá levar esse brinquedo para a escola e poderá escrever uma carta com um pedido de desculpa. 

Castigo: Não poder ir a uma festa de aniversário de um amigo.

Situação 5: A criança pintou a mesa da sala. 

Consequência lógica: Explicar à criança que sempre que isso acontecer terá menos tempo para pintar, pois terá de limpar a mesa. 

Castigo: Ir para o quarto e não voltar a pintar com as canetas durante uma semana.

Referências de leitura: O Pequeno Ditador, Anos incríveis, Crianças Confiantes, Crianças Capazes

Saiba mais sobre a Inês Cabral da Fonseca, Psicóloga Clínica - Crianças e Adolescentes, e Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses.

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