EN / PT
Nos últimos tempos, tem se debatido a função e utilização do castigo, em particular pelo receio das suas repercussões, utilidade e eficácia. No entanto, sabe-se que as regras e os limites em contexto familiar são essenciais para o bem-estar de todos e acima de todo para o desenvolvimento infantil.
Em vez de castigos, podemos falar em consequências. Ainda que possam parecer conceitos semelhantes, transmitem mensagens diferentes à criança.
O castigo é algo imposto de maneira externa e por vezes não está diretamente relacionado com o comportamento que a criança teve. Aplicar um castigo por si só pode interromper um comportamento, mas não vai ensinar a criança a ter um comportamento melhor, não a levará a refletir sobre alternativas ou soluções nem a desenvolver responsabilidade pelos seus atos. Quando aplicamos um castigo estamos a agir tendencialmente de uma forma autoritária e punitiva, sem que haja uma relação entre o ato e o castigo.
Por outro lado, as consequências, fazem a ligação entre o comportamento e um resultado lógico e coerente.
Todos os nossos comportamentos e ações têm consequências. Como adultos, sabemos que existem consequências sobre os nossos atos, umas boas e desejáveis, outras menos boas e que nos custam mais a aceitar, mas fazem parte da vida e aprendizagem ao longo da vida.
Com as crianças não tem de ser diferente. Desta forma, a aplicação destas consequências levará a criança a aprender por meio dos seus erros ou comportamentos desadequados que teve.
Dentro das consequências poderemos considerar as naturais e as lógicas. As consequências naturais são resultado da ação de uma criança, caso não houvesse intervenção de um adulto. Por exemplo, a criança não quer vestir o casaco, poderá ter frio; a criança não quer comer, poderá ter fome até à próxima refeição (existem situações em que os pais não podem deixar as consequências naturais acontecerem, quando representam perigo para a criança e/ou outros e quando a consequência natural demorará muito tempo). As consequências lógicas são planeadas pelos pais como consequência de um comportamento incorreto.
As consequências devem ser aplicadas tendo em conta algumas orientações:
- Devem ser imediatas (aplicadas de forma imediata ao acontecimento);
- Deve incluir sempre diálogo e clarificação sobre o que seria de esperar (ou seja, os comportamentos que os pais gostariam de ter visto) e comportamentos alternativos ao que a criança teve. Conforme o estado emocional da criança, esta conversa poderá ocorrer antes da consequência ou apenas quando a criança já demonstrar mais disponibilidade e calma para ouvir.
- Dar previsibilidade (isto é definir e clarificar as regras e limites, clarificar quais os comportamentos esperados, bem como as consequências do seu incumprimento);
- Limitadas no tempo (deve ser transmitida à criança a duração da consequência);
- Esteja atento (pode acontecer que de uma próxima vez ele/ela cumpra o combinado), acompanhe, verifique, elogie sempre que ocorra o comportamento desejado. Se necessário repita várias vezes e não se esqueça que o adulto serve de exemplo.
Para melhor compreendermos a diferença, analisemos os seguintes exemplos práticos:
Consequência Natural: Explicar à criança que deverá esperar até à próxima refeição para comer, sem que coma entre refeições aquilo que queria.
Castigo: Ir para o quarto e dormir.
Consequência Natural: Explicar à criança que ficará sem o brinquedo que partiu. Consoante a idade, poder-se-á sugerir que com o seu dinheiro poderá comprar um novo.
Castigo: Ir todos os dias para a cama mais cedo.
Consequência Lógica: Recordar o que ficou definido nos limites e no dia seguinte descontar esse tempo extra.
Castigo: Ficar sem ver televisão.
Consequência Lógica: No dia seguinte, não poderá levar esse brinquedo para a escola e poderá escrever uma carta com um pedido de desculpa.
Castigo: Não poder ir a uma festa de aniversário de um amigo.
Consequência lógica: Explicar à criança que sempre que isso acontecer terá menos tempo para pintar, pois terá de limpar a mesa.
Castigo: Ir para o quarto e não voltar a pintar com as canetas durante uma semana.
Referências de leitura: O Pequeno Ditador, Anos incríveis, Crianças Confiantes, Crianças Capazes
Saiba mais sobre a Inês Cabral da Fonseca, Psicóloga Clínica - Crianças e Adolescentes, e Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Para ler outros artigos que ajudem a lidar com os seus filhos, veja os nossos artigos sobre Educação Infantil.